Texto extraído do Blog do Sirkis.
Ao contrário de muitas opiniões que ouvi, penso que a decisão de Serra de aceitar o deputado Índio da Costa como seu vice foi uma boa saída, dentro de suas circunstâncias. Normalmente, se espera que torçamos sempre para que as decisões de nossos concorrentes dêem errado. Essa ,no entanto, não é a postura dos verdes. Penso que qualquer acerto programático ou de escolha acertada de equipe de governo que Serra ou Dilma cometam é positiva e elogiável. Já nos propusemos, no caso de uma vitória de Marina, governar com o PT, o PSDB e, eventualmente, com os bons quadros isolados de outros partidos. Por essa razão, quanto melhor rodeados estiverem nossos concorrentes potencialmente melhor para o país.
Serra foi acometido pela maldição do vice. Lula sofreu isso em 1989. Costuma afligir políticos em inferno astral. Tinha o seu vice dos sonhos, Aécio Neves. Sobre a relação de ambos pairavam seqüelas de uma disputa dura pela pré-cadidatura e a insegurança do ex-governador mineiro sobre sua sorte, no caso de uma derrota de Serra. Político em franca ascensão não quis correr o risco de ficar ao relento por quatro anos nessa contingência. Numa conversa que tivemos há três meses em BH ele me disse que gostava do legislativo e queria, de fato, ser senador. Penso que tem razão.
A solução natural para Serra era de fato um vice do DEM que é seu maior partido aliado. Mas o DEM, convenhamos... Era uma difícil encontrar ali alguém que de fato somasse para a chapa. Conversando com o Gabeira sobre o assunto, concluímos que a melhor solução para o Serra seria eventualmente o deputado baiano José Carlos Aleluia, um expoente light do carlismo, um político sério de bom nível intelectual e progressista dentro do contexto daquele partido conservador. A intrigante inviabilização de seu nome parece dever-se aos meandros da política baiana e ao fato de seu concorrente Juthaí Magalhães ser um dos conselheiros mais próximos de Serra.
Naturalmente, a indicação de Índio por Rodrigo Maia deve-se primordialmente ao ardil de retirar do caminho um forte concorrente na corrida interna para deputado federal num contexto em que o presidente do DEM não dispõe mais da máquina da prefeitura para sua campanha eleitoral. Pôde assim ver-se livre de um rival interno talentoso que, ao contrário dele, tem brilho próprio. Mas, em política, Max Weber já notava, o negativo pode produzir efeitos positivos e vice versa e, no caso, levando em conta o elenco disponível no DEM, essa parece ser uma boa solução, ainda que algo arriscada. Não deixa de ilustrar aquela tese americana "all politics is local" (a política é sempre paroquial)
Conheço razoavelmente bem Índio da Costa e, contrariando a maioria das opiniões que li, tenho uma opinião globalmente positiva sobre ele. Fez bons mandatos parlamentares como vereador e deputado e um trabalho sério como secretário de administração. Me recordo dele como um colega aplicado e correto, destacando-se numa equipe em acelerado processo de perda de qualidade. Embora nunca tenha enfrentado abertamente a deriva lamentável de César como prefeito, na sua “segunda encarnação”, como diz Merval Pereira, ao contrário de muitos outros, manteve sempre uma postura digna. No que pese reservas que tenho em relação à avidez dos políticos de sua geração, penso que dentre eles é um dos promissores. Por isso, passada a surpresa da escolha de Serra e independentemente dos seus efeitos político-eleitorais de curto prazo, que parecem duvidosos, opino que Serra, nas suas circunstâncias de saia justa não fez uma má escolha.
Em matéria de vice, assim como em vários outros campos, no entanto, sou muito mais Marina. Não há páreo para o nosso Guilherme Leal!
Salta aos olhos.
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