Wanessa Ferrari
Com o fim do verão e a chegada do outono, muita coisa se transforma nos bairros da cidade. As temperaturas tornam-se mais amenas, as noites ficam mais longas que o dia, as árvores derrubam suas folhas para poupar energia, as pessoas costumam sair para as ruas bem agasalhadas, além de outras mudanças típicas da estação.
Porém, o que pouca gente se dá conta é que o outono é uma data propícia também para iniciar uma transformação alimentar, baseada no consumo variado e regrado de frutas. É que o período, conhecido como a estação das frutas, favorece o cultivo de uma grande variedade de espécies, o que reduz os custos da produção e, consequentemente, os preços nos supermercados.
“Na primavera e no verão, temos a floração das plantas, época em que ocorre a floração. No outono, a planta já foi fecundada e começa a dar frutos. Isso acontece com a maioria das espécies”, explica Teresa Cristina Aragão Domingos Mastrangelli, bióloga e proprietária da Ecojardim.
A constatação pode ser feita diretamente nos bairros da cidade (veja nas páginas 2 e 3 alguns casos de quem cultiva frutas para consumo próprio). A avenida das Laranjeiras, localizada no Núcleo Presidente Geisel, por exemplo, está repleta de árvores carregadas de frutas. Por lá, é possível encontrar pés de laranja, pitanga, romã, acerola, coco, goiaba, entre outros.
No quintal de Maria Solange Farache, também. As árvores plantadas pela família há cerca de seis anos já fornecem delícias para adoçar as tardes cada vez mais frias.
“Todo mundo aproveita, inclusive os amigos dos meus filhos que, sempre que podem, visitam nosso pomar”, conta.
E já que a época favorece, porque não incluir mais frutas à alimentação e colaborar com a saúde?
“As frutas reequilibram o organismo com seus micronutrientes, que são vitaminas e sais minerais essenciais para nosso corpo. Além disso, têm frutose, que satisfaz a necessidade de comer doce”, explica a nutricionista Eliane Petean Arena.
De acordo com ela, são necessárias de quatro a seis porções de frutas por dia, de espécies variadas. Com este consumo, o corpo terá equilíbrio emocional e maior produção de enzimas que atuam na digestão, além de outros benefícios que variam de acordo com cada fruta. (confira os benefícios de cada fruta no infográfico da página 2 e 3)
“As porções podem ser de frutas em pedaços ou em forma de suco. O importante é a ingestão diária”, ressalta.
Com ou sem casca, eis a questão!
Há quem diga que as cascas das frutas concentram a maior quantidade de nutrientes das frutas. Por isso, não consumi-la seria um grande desperdício. Outros, dizem que não. O certo é descascar o alimento, já que sua casca concentra grande quantidade de agrotóxicos ou produtos químicos (no caso das frutas compradas em mercados). Então, qual é a atitude correta?
De acordo com a nutricionista Eliane Petean Arena, comer a fruta com ou sem casca não faz diferença. Isso porque a fruta, como um todo, tem muitos nutrientes.
“É um mito. A fruta toda tem vitaminas, não somente a casca. Essa perda de nutrientes só existe caso ela seja cozida ou caso ela seja transformada em suco e o líquido demore mais de 30 minutos para ser ingerido”, esclarece.
Trabalho com prazer
Aos poucos. Foi assim que a advogada Fabiana Pedrosa Fernandes transformou o quintal de seu escritório de advocacia um grande pomar, com direito a pés de acerola, pitanga, limão galego e siciliano, pinha, romã, maracujá, goiaba, mamão, figo e amora.
“Isso se eu não estiver me esquecendo de alguma fruta...”, comenta, enquanto repensa na variedade relatada.
Mas nem sempre o pomar existiu na casa onde hoje funciona o escritório de Fabiana. Segundo ela, o cantinho das frutas foi sendo cultivado aos poucos, com muito carinho e paciência.
“Minha irmã morava nesta casa e sua sogra foi a responsável por dar a ela a primeira muda de acerola. Depois vieram outras. Quando minha irmã se mudou e eu decidi instalar meu escritório aqui, optei por manter e aumentar o pomar”, conta.
Um dos fatores que motivou a decisão de Fabiana tem laços com sua infância. Nascida em Três Lagoas, em Minas Gerais, ela mudou-se para Bauru com a família quando tinha 1 ano. Contudo, em época de férias escolares, sempre visitava a avó na cidade natal, que morava em uma casa de quintal amplo, recheado de pés de frutas.
“Tenho boas recordações da época. Eu subia nos pés e ficava saboreando as frutas por horas, era uma delícia”, lembra.
Hoje, alguns anos mais tarde, Fabiana faz questão de manter suas origens. Sempre que tem horário marcado com algum cliente, chega mais cedo ao escritório, que fica na Vila Nova Cidade Universitária, para cuidar e saborear seu pomar.
“Fico debaixo dos pés, comendo as frutas e relaxando. É uma terapia. A melhor que existe”, afirma.
Banca de frutas
Quem passa pela rua Antônio Alves, no cruzamento com a rua Capitão Antonio Garcia, dificilmente não é tomado por um impulso e levado a estacionar próximo de uma banca que vende frutas dos mais diversos tipos.
Coloridas e exuberantes, elas chamam a atenção de quem passa pelo local. O mesmo acontece com outras bancas que vendem frutas em outros bairros da cidade.
“As bancas chamam a atenção por conta da qualidade da fruta. Como estamos sempre por perto, de olho para ninguém apertar, derrubar e amassar o produto, ganhamos em qualidade. Além disso, é uma opção prática para quem está voltando do trabalho e quer levar uma fruta para casa, mas sem perder muito tempo”, aponta Aristides Nunes, que trabalha no ramo há 30 anos.
Ele recebe mercadoria da Bahia, Paraná, Goiás, Mato Grosso, entre outros estados brasileiros, e sempre procura variar a espécie disponível para venda, mesmo que isso custe um pouco mais caro ao consumidor. Em épocas produtivas como o outono, o preço da mercadoria cai, aumentando as vendas e as opções.
“Se as pessoas querem determinada fruta, levam sem se importar com o preço. Por isso gosto de variar”, explica ele, que tem clientes fixos e conta com a ajuda da família nos horários de muito movimento, como a hora do almoço e o final da tarde.
Charme e sabor no apê
A professora Jaqueline Viotto Coelho Anastácio e o comerciante Viterbo Anastácio Neto têm um pé de jabuticaba na varanda de seu apartamento, no Centro. Não, a informação não está incorreta. Apesar de ser um caso raro, o casal é a prova viva de que é possível, sim, cultivar frutas em espaços pequenos.
A vontade de ter um pé de fruta em casa foi o principal motivo para que o casal topasse o desafio e superasse o obstáculo da falta de espaço.
“Meu marido sempre quis ter uma jabuticabeira. A árvore remete à infância dele. Quanto a mim, acho puro charme”, comenta ela, que escolheu uma espécie híbrida do pé de fruta, capaz de se adaptar a todos os tipos de vaso e de dar frutos durante todo o ano.
Com a decisão, além de ter a fruta no pé, sempre a mão para ser colhida, o casal ganhou qualidade de vida e também uma terapia, tanto que, se fosse possível, cultivariam também acerola e amora.
“Comer o fruto do pé é sempre melhor e mais gostoso. Pode fica maduro no tempo exato e sabemos a procedência do que estamos comendo”, justifica.
Quanto ao trabalho, Jaqueline afirma que ele é bem menor do que as pessoas imaginam. Basta aguar a planta algumas vezes nos dias mais quentes, adubar a cada seis meses e podar pelo menos uma vez ao ano.
“Vale a pena o trabalho”, garante.
Doce quintal
Que tal, no meio da tarde, poder apanhar algumas amoras direto do pé? Ou ainda, poder colher algumas acerolas para fazer um suco fresquinho e gelado? Talvez, quem sabe, aproveitar a oportunidade e pegar algumas mangas para serem degustadas mais tarde?
Maria Solange Farache tem este privilégio. Isso porque há 6 anos ela mantém no quintal se sua casa, localizada no Condomínio Samambaia, um pequeno pomar, que tem além das frutas citadas acima, pés de jabuticaba, limão, mamão, romã e banana.
“É uma delícia. Sempre gostei muito de árvores frutíferas e essa foi minha maior motivação para fazer um pomar em casa”, explica ela, que garante que as frutas cultivadas em sua casa têm um sabor diferente das do supermercado
Por conta da variedade de espécies, Maria Solange pode desfrutar de seu pomar durante todo o ano. E para que ele esteja sempre carregado de frutas, três vezes por semana um jardineiro faz a manutenção do local.
“Mas é coisa simples, só para manter em ordem mesmo, afinal, como diz o ditado, aqui, se plantando tudo dá”, considera.
Quem comemora a decisão de ter um pomar em casa são os filhos, os amigos e os amigos dos filhos de Maria Solange.
“É engraçado: minha casa vive cheia de gente e todo mundo aproveita dos benefícios do pomar. Não há quem resista a uma fruta colhida direto do pé”, avalia.
Cultive árvore frutífera em qualquer espaço
Pomar público
Quando o Núcleo Presidente Geisel foi loteado, a prefeitura decidiu batizar parte de suas ruas com nomes de árvores frutíferas. Os moradores, por sua vez, decidiram honrar a característica que marca o bairro e optaram por plantar ao longo de uma das principais avenidas do local diversas árvores frutíferas.
“Olha aqui: nesta quadra, temos romã, poncã, manga, acerola, pitanga, tangerina e laranja. Na outra quadra tem um pé de coco. Nesta aqui, tem goiaba, abacate, jabuticaba...”, cita Olívia Arantes Souza, moradora do bairro há cerca de 30 anos.
Ela conta que os moradores locais sempre preferiram as árvores frutíferas às outras espécies. Isso porque, além de fazer sombra, deixam o local bem arborizado, e ainda produzem frutos.
“É uma delícia. Tem sempre algum fruto maduro. Todo mundo aproveita. Os tipos de frutas que dão aqui, raramente compramos no mercado”, conta.
Para que a opção funcione, cada morador faz sua parte e cuida do espaço do canteiro que fica em frente à sua respectiva residência. Já as frutas, são de todos. Inclusive das crianças, que vivem de pé em pé se lambuzando.
“Sempre passa a molecada da escola e apanha uma fruta ou outra. O bom é que, pelo menos, estão se alimentando bem”, considera Olívia.
Um pomar para chamar de seu
Atualmente, ter ao alcance das mãos em qualquer hora do dia uma fruta carregada do frescor típico do pé da planta é um grande privilégio. Isso porque não é preciso ir ao supermercado ou à quitanda, enfrentar filas, gastar dinheiro e tampouco se preocupar com agrotóxicos.
E se engana quem pensa que para desfrutar desse privilégio é preciso tempo, espaço e uma boa dose de paciência: é, sim, possível adequar algumas espécies de pés de frutas aos espaços disponíveis (mesmo em caso de quem mora em apartamentos!) sem ter muito trabalho.
Extraia o que a estação tem de melhor para oferecer
•Suco de maracujá com couve
Diminui a ansiedade, melhora o sistema digestivo e repõe cálcio e ferro
Ingredientes:
Maracujá
1 maço de couve
½ litro de água
Modo de preparo:
Bata em um liquidificador o maço de couve com ½ litro de água. Coloque em forminhas de gelo e leve ao congelador. Depois, faça suco de maracujá, utilizando a polpa da fruta, água e um pouco de açúcar. Na sequência, bata e suco de maracujá com 1 cubo de couve.
•Suco verde
Poderoso antioxidante, combate o envelhecimento, o triglicérides, o colesterol e a glicemia
Ingredientes:
½ biomassa de banana
1 maço de couve
½ litro de água
Limão ou acerola
Modo de preparo:
Bata em um liquidificador o maço de couve com ½ litro de água. Coloque em forminhas de gelo e leve ao congelador até formar cubinhos. Depois, bata no liquidificados ½ biomassa de banana (veja receita nesta página), 1 cubo de couve e suco de limão ou acerola.
•Biomassa de banana verde
Controla o colesterol, reduz o triglicérides e melhora a glicemia; ideal para diabéticos
Ingredientes:
6 bananas extremamente verdes
Água
Modo de preparo:
Lave as bananas com casca e reserve. Em uma panela de pressão, coloque para ferver uma quantidade de água suficiente para cobrir 6 bananas. Depois, coloque as bananas com casca dentro da panela e feche. Quando a válvula começar a girar, desligue o forno e espere até que a panela perca a pressão. Descasque as bananas, corte-as ao meio e leve ao congelador. As bananas podem ser usadas em sucos, doces e até mesmo no feijão.
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