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segunda-feira, 7 de março de 2011

Lição árabe

Os conflitos no Oriente Médio têm vários aspectos ambientais interessantes, mesmo que o tema não esteja na pauta dos manifestantes.
Em primeiro lugar, os conflitos mostram o que as pessoas podem fazer quando querem juntas. Mesmo mantidos sob um regime sangrento e sem acesso à educação, não há o que milhões de pessoas não consigam.
Quinhentas mil pessoas assinando uma petição contra Belo Monte fazem os tomadores de decisão vacilarem, mas um milhão de pessoas na Praça dos Três Poderes derrubariam o presidente se eles assim o quisessem.
Nós ocidentais, estudados e afluentes, estamos tendo uma necessária lição de participação política com aqueles vistos por muitos como fundamentalistas medievais.
O rio no fundo da sua casa cheira mal ? A prefeitura vai cortar a árvore centenária ? Nossos colegas do Oriente Médio agora nos ensinam que vale mais a pena sair às ruas do que reclamar para a mesa do bar. No caso de uma prefeitura, você nem precisa tanta gente. Coloque uma centena de pessoas bravas no gabinete do prefeito e ele resolverá o problema.
A Internet é o meio barato e rápido para juntar pessoas que pensam igual. No tempo em que era necessário anunciar na mídia convencional, era mais complicado porque ela costuma estar nas mãos do governo. Hoje é fácil juntar pessoas que desejam o mesmo (ainda que seja mais difícil encontrar pessoas desejando o que quer que seja).
A segunda lição é sobre o resultado de grandes obras destituídas de significado social, histórico e econômico. Na Líbia, o “Grande Rio Feito pelo Homem” leva água do aqüífero do Sul até Trípoli. Uma obra de 25 bilhões de dólares que apesar de ajudar os moradores de uma capital africana a tomar banho como se estivessem em Manaus, não criou oportunidades de trabalho suficientes para evitar os conflitos, assim como nenhuma das outras faraônicas implementadas por Kaddafi.
E ainda pior, uma vez implantado o conflito, é muito difícil proteger o patrimônio público, ambiental ou histórico. Vide a invasão do Iraque. Não há quem pense no bem comum enquanto a própria pele está em risco.

A lição para o Brasil é obvia. Transposições no São Francisco ou trens bala em São Paulo são lindos mas mudam pouco a vida das pessoas. Um trem normal ligando São Paulo ao Rio não seria algo a ser implementado com custo menor e beneficio quase igual ? Com a sobra, vários outros projetos importantes poderiam ser implementados, como a conexão das capitais do NE. 
Ao fim, o que importa são as pessoas. Grandes obras sem significado são lápides políticas para seus criadores e terminam gerando conflitos que ainda ampliam a degradação ambiental.

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